segunda-feira, 24 de julho de 2017


Deus, dando ao homem a necessidade de viver, sempre lhe forneceu os meios para isso.  E se ele não os encontra é por falta de compreensão. Deus não podia  dar ao ser humano a necessidade de viver sem lhe dar também os meios. É por isso que faz a terra produzir de maneira a fornecer o necessário a todos  os seus habitantes, pois só o necessário é útil; o supérfluo jamais o é.
A terra às vezes nem sempre produz bastante para fornecer o necessário ao ser humano, é porque ele a negligencia, o ingrato, e, no entanto ela é uma excelente mãe. Frequentemente ele ainda acusa a Natureza pelas consequências da sua imperícia ou da sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário, se o ser humano soubesse contentar-se. Se ela não supre a todas as necessidades é porque o ser humano emprega no supérfluo o que se destina ao necessário. Vede o árabe no deserto como encontra sempre do que viver, porque não cria necessidades fictícias. Mas quando metade dos produtos é desperdiçada na satisfação de fantasias, deve o ser humano se admirar de nada encontrar no dia seguinte e tem razão de se lastimar por se achar desprevenido quando chega o tempo de escassez. Na verdade, não é a Natureza a imprevidente, é o ser humano que não sabe regular-se.
Os bens da terra são oriundos do produto do solo, porque ele é a fonte primeira de que decorrem todos os outros recursos, porque esses recursos, em última instância, são apenas uma transformação dos produtos do solo. É por isso que devemos entender pelos bens da terra tudo quanto o ser humano pode gozar nesse mundo.
Os meios de subsistência faltam frequentemente a certos indivíduos, mesmo em meio da abundância que os cerca pelo egoísmo dos seres humanos que nem sempre fazem o que devem a eles mesmos. Buscai e achareis; estas palavras não querem dizer que seja suficiente olhar para a terra a fim de encontrar o que se deseja, mas que é necessário procurar com ardor e perseverança, e não com displicência, sem se deixar desanimar pelos obstáculos que muito frequentemente não passam de meios de pôr à prova a constância, a paciência e a firmeza.
Comentário de Kardec: Se a civilização multiplica as necessidades, também multiplica as fontes de trabalho e os meios de vida; mas é preciso convir que nesse sentido ainda muito lhe resta a fazer. Quando ele tiver realizado a sua obra ninguém poderá dizer que lhe falte o necessário, a menos que o falte por sua própria culpa. O mal, para muitos, é viverem uma vida que não é a que a Natureza lhes traçou; é então que lhes falta a inteligência para vencerem. Há para todos um lugar ao sol, mas com a condição de cada qual tomar o seu e não o dos outros. A Natureza não poderia ser responsável pelos vícios da organização social e pelas consequências da ambição e do amor-próprio.
Seria preciso ser cego, entretanto, para não se reconhecer o progresso que nesse sentido têm realizado os povos mais adiantados.
Graças aos louváveis esforços que a Filantropia e a Ciência, reunidas, não cessam de fazer para a melhoria da condição material dos seres humanos, e malgrado o crescimento incessante das populações, a insuficiência da produção é atenuada, pelo menos em grande parte, e os anos mais calamitosos nada têm de comparável aos de há bem pouco tempo. A higiene pública, esse elemento tão essencial da energia e da saúde, desconhecido por nossos pais, é objeto de uma solicitude esclarecida; o infortúnio e o sofrimento encontram lugares de refúgio; por toda parte a Ciência é posta em ação, contribuindo para o acréscimo do bem-estar. Podendo-se dizer que não foi atingido à perfeição. Mas o que já se fez dá-nos a medida do que pode ser feito, com perseverança, se o ser humano for bastante sensato para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e sérias e não nas utopias que o fazem recuar em vez de avançar.
 Há situações em que os meios de subsistência não dependem absolutamente da vontade do ser humano e a privação do necessário, até o mais imperioso, é uma consequência das circunstâncias. Sendo isto uma prova frequentemente cruel que o ser humano deve sofrer e à qual subia que seria exposto; seu mérito está na submissão à vontade de Deus, se a sua inteligência não lhe fornecer algum meio de sair da dificuldade. Se a morte deve atingi-lo, ele deverá submeter-se sem lamentar, pensando que a hora da verdadeira liberdade chegou e que o desespero do momento final pode fazê-lo perder o fruto de sua resignação.
Há mais mérito em sofrer todas as provas da vida com abnegação e coragem, do que em situações críticas se virem a serem obrigados a sacrificar os semelhantes para matar a fome. Com isso acabam cometendo um crime.
 Há homicídio e crime de lesa-natureza, que devem ser duplamente punidos.
Nos mundos onde a organização é mais apurada, os seres vivos têm necessidade de alimentação, mas os seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Esses alimentos não seriam tão substanciais para estômagos grosseiros como do ser humano.

BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS


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