sábado, 7 de outubro de 2017

NATUREZA DAS PENALIDADES E PRAZERES FUTUROS.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS. PARTE QUARTA. ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES. CAPÍTULO II. PENALIDADES E PRAZERES FUTUROS.
NATUREZA DAS PENALIDADES E PRAZERES FUTUROS.
As penas e os gozos da alma após a morte não têm alguma coisa de material, desde que a alma se desprenda da matéria. O próprio bom senso o diz. Essas penas e esses gozos nada têm de carnal e por isso mesmo são mil vezes mais vivos do que os da Terra. O Espírito, uma vez desprendido, é mais impressionável: a matéria não mais lhe enfraquece as sensações.
 O ser humano faz ideias tão grosseiras e absurdas das penas e dos gozos da vida futura, porque a sua inteligência ainda não é suficientemente desenvolvida. Aliás, isso depende também do que se lhe tenha ensinado: é nesse ponto que há necessidade de uma reforma. A linguagem terrena é muito imperfeita para exprimir o que existe além do seu alcance. Por isso, foi necessário fazer comparações, sendo essas imagens e figuras tomadas como a própria realidade. Mas à medida que o ser humano se esclarece, seu pensamento compreende as coisas que sua linguagem não pode traduzir.
A felicidade dos Bons Espíritos consiste em conhecer todas as coisas; não ter ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que fazem a infelicidade dos seres. O amor que os une é para eles a fonte de uma suprema felicidade. Não experimentam nem as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes com o bem que fazem. De resto, a felicidade dos Espíritos é sempre proporcional à sua elevação. Somente os Espíritos puros gozam, na verdade, da felicidade suprema, mas nem por isso os demais são infelizes. Entre os maus e os perfeitos, há uma infinidade de graus, nos quais os gozos são relativos ao estado moral. Os que são bastante adiantados compreendem a felicidade dos que avançaram mais que eles, e a ela aspiram, mas isso é para eles motivo de emulação e não de inveja. Sabem que deles depende alcançá-la e trabalham com esse fito, mas com a calma da consciência pura. Sentem-se felizes de não ter de sofrer o que sofrem os maus.
Contando a ausência das necessidades materiais entre as condições da felicidade para os Espíritos. Mas a satisfação dessas mesmas necessidades é para o ser humano uma fonte de gozos animais. E quando não podemos satisfazer essas necessidades, isso é uma tortura.
Se deve entender isto quando se diz que os Espíritos puros estão reunidos no seio de Deus e ocupados em lhe cantar louvores, vem a ser uma alegoria para dar a ideia da compreensão que eles têm das perfeições de Deu. Pois o veem e compreendem; mas, como tantas outras, não se deve torná-la ao pé da letra. Tudo na Natureza, desde o grão de areia, canta, ou seja, proclama o poder, a sabedoria e a bondade de Deus. Mas não pensemos que os Espíritos bem-aventurados estejam em contemplação na eternidade. Isso seria uma felicidade estúpida e monótona, e mais ainda, a felicidade do egoísta, pois a sua existência seria uma inutilidade sem fim. Eles não sofrem mais as tribulações da existência corpórea: isso já é um gozo; depois, como já foi dito, conhecem e sabem todas as coisas e empregam proveitosamente a inteligência adquirida, para auxiliar o progresso dos outros Espíritos: essa é a sua ocupação e ao mesmo tempo um gozo.
Os sofrimentos dos Espíritos inferiores são tão variados quanto às causas que os produzem e proporcionais ao grau de inferioridade, como os gozos são proporcionais ao grau de superioridade. Podemos resumi-los assim: cobiçar tudo o que lhes falta para serem felizes, mas não poder obtê-lo; ver a felicidade e não poder atingi-la; mágoa, ciúme, raiva, desespero, decorrentes de tudo o que os impede de serem felizes, remorsos e uma ansiedade moral indefinível. Desejam todos os gozos e não podem satisfazê-los. É isso o que os tortura.
A influência que os Bons Espíritos exercem uns sobre os outros é sempre boa da parte deles. Mas os Espíritos perversos procuram desviar do caminho do bem e do arrependimento os que  consideram suscetíveis de serem arrastados, e que, muitas vezes, levaram  para o mal durante a vida terrena.
A morte não nos livra da tentação, mas a ação dos maus Espíritos é muito menor sobre os outros  Espíritos do que sobre os seres humanos, pois aqueles não estão sujeitos às paixões materiais.
Os maus Espíritos para tentar os outros Espíritos,  mesmo não se dispondo do auxílio das paixões, existem, entretanto, no pensamento dos Espíritos atrasados. Os maus entretêm esses pensamentos,  arrastando suas vítimas aos lugares onde deparam com essas paixões e com tudo o que as possa excitar.
 Mas pergunta-se, para que servem essas paixões, se lhes falta o objeto real?
A resposta é precisamente para o seu suplício: o avarento vê o ouro que não pode possuir; o devasso, as orgias de que não pode participar; o orgulhoso, as honras que inveja e de que não pode gozar.
Os maiores sofrimentos que os maus Espíritos podem suportar, não há descrição possível das torturas morais que constituem a punição de certos crimes. Os próprios Espíritos que as sofrem teriam dificuldades em nos dar uma ideia. Mas seguramente a mais horrível é o pensamento de serem condenados para sempre.
Comentário de Kardec: O ser humano tem das penas e dos gozos da alma após a morte uma ideia mais ou menos elevada, segundo o estado de sua inteligência. Quanto mais ele se desenvolve, mais essa ideia se depura e se desprende da matéria; compreende as coisas de maneira mais racional e deixa de tomar ao pé da letra as imagens de uma linguagem figurada. A razão mais esclarecida nos ensina que a alma é um ser inteiramente espiritual e, por isso mesmo, não pode ser afetada pelas impressões que não agem fora da matéria. Mas disso não se segue que esteja livre de sofrimentos, nem que seja punida pelas suas faltas.
As comunicações espíritas têm por fim mostrar-nos o estado futuro da alma, não mais como uma teoria, mas como uma realidade. Colocam sob nossos olhos as vicissitudes da vida do além-túmulo, mas ao mesmo tempo no-las apresentam como consequências perfeitamente lógicas da vida terrena. E embora destituídas do aparato fantástico criado pela imaginação dos seres humanos, nem por isso são menos penosas para os que fizeram mal uso de suas faculdades. A diversidade dessas conseqüências é infinita, mas pode dizer-se de maneira geral: cada um é punido naquilo em que pecou. Assim é que uns o são pela incessante visão do mal que fizeram; outros pelos remorsos, pelo medo, pela vergonha, a dúvida, o isolamento, as trevas, a separação dos seres que lhes são caros etc.
A procedência da doutrina do fogo eterno é uma imagem como tantas outras, tomada pela realidade.
 Mas esse temor não pode ter um bom resultado, pois é só ver se ela refreia aqueles que a ensinam. Se ensinam coisas que a razão rejeitará mais tarde, por certo produzirá uma impressão que não será durável nem salutar.
Comentário de Kardec: O ser humano, incapaz de traduzir na sua linguagem a natureza desses sofrimentos, não encontrou para ela comparação mais enérgica que a do fogo, pois este é para ele o tipo do suplicio mais cruel e o símbolo da ação mais enérgica. É por isso que a crença no fogo eterno remonta a mais alta Antiguidade e os povos modernos a herdaram dos antigos. É ainda por isso que, na sua linguagem figurada, ele diz: o fogo das paixões, queimar de amor, de ciúmes etc.
Os Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo, e é isso o que os tortura, pois compreendem que estão privados dela por sua própria culpa. E por isso que o Espírito liberto da matéria aspira a uma nova existência corpórea, pois cada existência poderá abreviar se for bem empregada, a duração desse suplício. É então que ele escolhe as provas que poderão expiar suas culpas. Porque, ficam sabendo, o Espírito sofre por todo o mal que fez ou do qual foi causador involuntário, por todo o bem que, tendo podido fazer, não o fez, e por todo o mal que resultar do bem que deixou de fazer. O Espírito errante não está mais envolvido pelo véu da matéria; é como se tivesse saído de um nevoeiro e vê o que o distancia da felicidade; então sofre ainda mais, porque compreende quanto é culpado. Para ele não existe mais a ilusão; vê a realidade das coisas.
Comentário de Kardec: O Espírito, na erraticidade, abrange na sua visão, de um lado, todas as suas existências passadas, e do outro, o futuro prometido, compreendendo o que lhe falta para atingi-lo. Como um viajante que chegou ao cume de uma montanha, vê a rota percorrida e o que falta para chegar ao seu destino.
Quanto aos Espíritos Bons verem o  sofrimento dos maus não  lhes causa aflição, e nem os perturba, pois eles sabem que o mal terá um fim e ajudam os outros no seu aperfeiçoamento, estendendo-lhes a mão: essa é a sua ocupação e um gozo quando obtêm êxito.
A visão dos Espíritos das dores e dos sofrimentos dos que lhes foram caros na Terra não lhes perturba a felicidade, por que: consideram as aflições de outro ponto de vista, pois sabem que os sofrimentos são úteis para o adiantamento deles, desde que os suportem  com resignação. Eles se afligem mais com a falta de coragem que os atrasam do que com os sofrimentos que sabem ser passageiros.
Os Espíritos não podem ocultar-se reciprocamente os pensamentos e, todos os atos da vida sendo conhecidos, segue-se que o culpado está sempre na presença da vítima, diz o bom senso.
Essa revelação de todos os atos repreensíveis e a presença constante das vítimas será um castigo para o culpado maior do que se pensa, mas somente até que ele tenha expiado as suas culpas, seja como Espírito, seja como ser humano em novas existências corpóreas.
Comentário de Kardec: Quando estivermos no mundo dos Espíritos, todo o nosso passado estando descoberto, o bem e o mal que tivermos feito serão igualmente conhecidos. Em vão aquele que fez o mal tentará escapar à visão de suas vítimas: sua presença inevitável será para ele um castigo e um remorso incessante, até que tenha expiado os seus erros. O ser humano de bem, pelo contrário, só encontrará por toda parte olhares amigos e benevolentes.
Para o mau, não há maior tormento na Terra que a presença de suas vítimas. É por isso que ele sempre as evita. Que será dele quando, dissipada a ilusão das paixões, compreender o mal que praticou, vendo os seus atos mais secretos revelados, uma hipocrisia desmascarada, e sem poder subtrair-se à sua vista? Enquanto a alma do ser humano perverso é presa da vergonha, do pesar e do remorso, a do justo goza de perfeita serenidade.
 A recordação das faltas que a alma tenha cometido quando ainda imperfeita não perturba a sua felicidade, mesmo depois que ela se depurou, porque ela resgatou as suas faltas e saiu vitoriosa das provas a que se submeteu com esse fim.
Para a alma que permanece ainda imaculada, as provas que ainda terá de sofrer para terminar a sua purificação são uma preocupação penosa, que perturba a sua felicidade.
 É por isso que ele não pode gozar de uma felicidade perfeita, senão quando estiver inteiramente pura. Mas para aquela que já se elevou o pensamento das provas por que ainda tem de passar nada tem de penoso.
Comentário de Kardec: A alma que chegou a um certo grau de pureza goza a felicidade. Um sentimento de doce satisfação a envolve: sente-se feliz com tudo o que vê e que a rodeia; o véu se eleva, para ela, descobrindo os mistérios e as maravilhas da criação e as perfeições divinas se mostram em todo o seu esplendor.
O laço de simpatia que une os Espíritos da mesma ordem é para eles um motivo de felicidade.
A união dos Espíritos que se simpatizam pelo bem é para eles um dos maiores gozos, porque não temem ver essa união perturbada pelo egoísmo. Eles formam, no mundo inteiramente espiritual, as famílias do mesmo sentimento. É nisso que consiste a felicidade espiritual, como em no mundo material os seres humanos se agrupam em categorias e gozam de um certo prazer quando se reúnem. A afeição pura e sincera que provam e de que são objeto é um motivo de felicidade, pois lá não há falsos amigos nem hipócritas.
Comentário de Kardec: O ser humano goza as primícias dessa felicidade sobre a Terra, quando encontra almas com as quais pode confundir-se numa união pura e santa. Numa vida mais depurada, esse prazer será inefável e sem limites, porque ele só encontrará almas simpáticas, que o egoísmo não tornou indiferentes. Pois tudo é amor na Natureza; o egoísmo é que o aniquila.
Há diferença pode ser grande para o estado futuro do Espírito, entre aquele que temia a morte e aquele que a via com indiferença e até mesmo com alegria; entretanto, ela em geral se apaga ante as causas que produzem esse medo ou esse desejo. Quem a teme ou quem a deseje pode ser impulsionado por sentimentos muito diversos, e são esses sentimentos que vão influir no estado futuro do Espírito. E evidente, por exemplo, que aquele que deseja a morte unicamente por ver na mesma o fim das tribulações, de certa maneira se queixa das provas que deve sofrer.
Se assim fosse, seria necessário se fazer profissão de fé no Espiritismo e crer nas manifestações para assegurar nossa sorte na vida futura. Se fosse assim, todos os que não creem ou não puderam esclarecer- se seriam deserdados, o que é absurdo. É o bem que assegura a sorte no futuro; ora, o bem é sempre o bem, qualquer que seja a via pela qual se conduz.
Comentário de Kardec: A crença no Espiritismo ajuda o ser humano a se melhorar ao lhe fixar as ideias sobre determinados pontos do futuro; ela apressa o adiantamento dos indivíduos e das massas porque permite considerarmos o que seremos um dia: é, pois, um ponto de apoio, uma luz que nos guia. O Espiritismo ensina a suportar as provas com paciência e resignação, desvia o ser da prática dos atos que podem retardar-lhe a felicidade futura, e é assim que contribui para a sua felicidade. Mas nunca se disse que sem ele não se possa atingi-la.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS..


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