O LIVRO DOS ESPÍRITOS. PARTE QUARTA. ESPERANÇAS E
CONSOLAÇÕES. CAPITULO II. PENALIDADES E PRAZERES FUTUROS. RESSURREIÇÃO DA
CARNE.
0 dogma da ressurreição da carne é a consagração da
reencarnação ensinada pelos Espíritos.
Dá-se
com essa expressão o que se dá com tantas outras que só parecem
desarrazoadas aos olhos de certas pessoas que a tomam ao pé da letra e por
isso são levadas à incredulidade. Dai-lhe, porém, uma interpretação
lógica, e esses a que chamamos livres-pensadores a admitirão sem
dificuldade, precisamente porque raciocinam. Não nos enganemos, esses
livres-pensadores nada mais procuram do que crer; eles têm como os outros,
mais talvez do que os outros, ansiedade pelo futuro, mas não podem admitir
o que é absurdo para a Ciência. A doutrina da pluralidade das existências
se conforma à justiça de Deus; somente ela pode explicar o que sem ela é
inexplicável. Como queremos que esse princípio não esteja na Religião.
Então a Igreja, pelo dogma da ressurreição da carne,
ensina a doutrina da reencarnação.
Essa
doutrina é a consequência de muitas coisas que passaram despercebidas e que não
se tardará a compreender nesse sentido; dentro em pouco se reconhecerá que o
Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras Sagradas. Os
Espíritos não vêm, portanto, subverter a Religião, como pretendem alguns,
mas pelo contrário vêm confirmá-la, sancioná-la através de provas
irrecusáveis. E como é chegado o tempo de substituir a linguagem figurada,
falam sem alegorias, dando às coisas um sentido claro e preciso que não
possa ser objeto de nenhuma falsa interpretação. Eis porque dentro de
algum tempo teremos mais pessoas sinceramente religiosas e crentes do que as temos
hoje.
Comentário de Kardec: A Ciência demonstra a impossibilidade da
ressurreição segundo a ideia vulgar. Se os despojos do corpo humano
permanecessem homogêneos, embora dispersados e reduzidos a pó, ainda se
conceberia a sua reunião em determinado tempo; mas as coisas não se passam
assim. O corpo é formado por elementos diversos: oxigênio, hidrogênio, azoto,
carbono etc. Pela decomposição, esses elementos se dispersam, mas vão servir à
formação de novos corpos, e isso de tal maneira que a mesma molécula, por
exemplo, de carbono, entrará na composição de muitos milhares de corpos
diferentes (não falamos senão dos corpos humanos, sem contar os dos animais).
Dessa maneira, um indivíduo pode ter em seu corpo moléculas que pertenceram aos
seres humanos dos primeiros tempos. E essas mesmas moléculas orgânicas que
absorvemos dos nossos alimentos provêm talvez do corpo de um indivíduo que
conhecemos, e assim por diante. Sendo a matéria de quantidade definida e suas
transformações em número indefinido como poderia cada um desses corpos
reconstituir-se com seus mesmos elementos. Há nisso uma impossibilidade
material. Não se pode, portanto, racionalmente admitir a ressurreição da carne,
senão como uma figura simbolizando o fenômeno da reencarnação. E então nada há
que choque a razão, nada que esteja em contradição com os dados da Ciência.
É verdade que segundo o dogma essa ressurreição não
deve ocorrer senão no fim dos tempos, enquanto segundo a doutrina espírita
ocorre todos os dias. Mas não há também nesse quadro do julgamento final uma
grande e bela figura que oculta, sob o véu da alegoria, uma dessas verdades imutáveis
que os céticos não rejeitarão quando forem conduzidas à verdadeira
significação. Que se medite bem a teoria espírita sobre o futuro das almas e
sobre a sua sorte, em consequência das diferentes provas que devem sofrer, e se
verá que, com exceção da simultaneidade, o julgamento em que são condenadas ou
absolvidas não é uma ficção como pensam os incrédulos. Consideremos ainda que
ela é a consequência natural da pluralidade dos mundos, hoje perfeitamente
admitida, enquanto, segundo a doutrina do julgamento final, a Terra é
considerada como o único mundo habitado.
Estas
respostas de São Luís confirmam a natureza religiosa do Espiritismo, ressaltada
por Kardec, em que a Doutrina é apresentada como desenvolvimento
histórico do Cristianismo. Estranham alguns que o Espírito use o título
de santo, mas é evidente que o usa como meio de
identificação. Aliás, como ensina Kardec, os títulos terrenos nada representam
para os Espíritos superiores, podendo ser usados por eles quando se
fizer necessário, como neste caso.
A
pluralidade dos mundos habitados era admitida como possibilidade no tempo de
Kardec, como o é hoje, embora a Ciência não a admita como verdade comprovada.
Flammarion publicou uma grande obra a respeito, traduzida para o português:
“A pluralidade dos mundos habitados”, e no prefácio de
“O desconhecido e os problemas psíquicos”
declara com a sua autoridade de astrônomo: “A imortalidade através das
esferas siderais parece-nos o complemento lógico da Astronomia”. Os astrônomos
atuais procuram obter provas a respeito.
BIBLIOGRAFIA:
O LIVRO DOS ESPÍRITOS.

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