PARTE QUARTA. ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES. CAPÍTULO I. PENALIDADES E
PRAZERES TERRENOS. PERDA DE PESSOAS AMADAS.
A perda de entes queridos vem a ser
uma causa de sofrimento onde atinge tanto o rico como o pobre: é uma prova de
expiação e lei para todos. Mas serve de consolação saber que poderemos um dia
nos comunicar com os nossos amigos e parentes pelos meios de que dispomos,
enquanto esperamos o aparecimento de outros mais diretos e mais acessíveis aos
nossos sentidos.
A opinião
das pessoas que consideram as comunicações do além-túmulo como uma
profanação, podemos dizer que não
pode haver profanação quando há recolhimento e quando a evocação é feita com
respeito e decoro. O que o prova é que os Espíritos que nos são afeiçoados se
manifestam com prazer, sentem-se felizes com a nossa lembrança e por
conversarem conosco. Profanação haveria se as evocações fossem feitas com
leviandade.
Comentário
de Kardec: A possibilidade de entrar em
comunicação é uma bem doce consolação, que nos proporciona o meio de nos
entretermos com os parentes e amigos que deixaram a Terra antes de nós. Pela
evocação, eles se aproximam de nós, permanecem do nosso lado, nos ouvem e nos
respondem. Não existe mais, por assim dizer, separação entre nós e eles, que
nos ajudam com os seus conselhos, nos dão testemunhos da sua afeição e do
contentamento que experimentam por nos lembrarmos deles. É para nós
uma satisfação sabê-los felizes e aprender através deles os detalhes da sua
nova existência, adquirindo a certeza de um dia, por nossa vez, nos juntarmos a
eles.
As dores
inconsoláveis dos que ficam na Terra afetam os Espíritos que partiram, porque o Espírito é sensível a lembrança e às lamentações
daqueles que amou, mas uma dor incessante e desarrazoada o afeta penosamente,
porque ele vê nesse excesso uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus, e
por conseguinte um obstáculo ao progresso e talvez ao próprio reencontro com os
que deixou.
Comentário
de Kardec: Estando o Espírito
mais feliz do que na Terra, lamentar que tenha deixado esta vida é lamentar que
ele seja feliz. Dois amigos estão presos na mesma cadeia; ambos devem ter um
dia à liberdade, mas um deles a obtém primeiro. Seria caridoso que
aquele que continua preso se entristecesse por ter o seu amigo se libertando
antes? Não haveria de sua parte mais egoísmo do que afeição, ao querer que o
outro partilhasse por mais tempo do seu cativeiro e dos seus
sofrimentos? O mesmo acontece entre dois seres que se amam na
Terra. O que parte primeiro foi o primeiro a se libertar e devemos
felicitá-lo por isso, esperando com paciência o momento em que também nos
libertaremos.
Faremos outra comparação. Tendes um
amigo que, ao nosso lado, se encontra em situação penosa. Sua saúde ou seu
interesse exige que vá para outro país, onde estará melhor sob todos
os aspectos. Dessa maneira, ele não estará mais ao nosso lado, durante algum
tempo. Mas estaremos sempre em correspondência com ele. A separação não será
mais que material. Ficareis aborrecido com o seu afastamento, que é para o seu
bem?
A doutrina espírita, pela s provas
patentes que nos dá quanto à vida futura, à presença ao nosso redor dos seres
aos quais amamos, à continuidade da sua afeição e da sua solicitude, pelas
relações que nos permite entreter com eles, nos oferece uma suprema consolação,
numa das causas mais legitimas de dor. Com o Espiritismo, não há mais abandono.
O mais isolado dos seres humanos tem sempre amigos ao seu redor, com os quais
pode comunicar-se.
Suportamos impacientemente as
tribulações da vida. Elas nos parecem tão intoleráveis que supomos não as poder
suportar. Não obstante, se as suportarmos com coragem, se soubermos impor
silêncio às nossas lamentações, haveremos de nos felicitar quando estivermos
fora desta prisão terrena, como o paciente que sofria se felicita, ao se ver
curado, por haver suportado com resignação um tratamento doroso.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
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